domingo, 6 de novembro de 2011

Poema dedicado a Carlos Marighela





EM SEU ENTERRO...

Em seu enterro não havia velas:
Como acendê-las, sem a luz do dia?

Em seu enterro não havia flores:
Onde colhê-las, nessa manha fria?

Em seu enterro não havia povo:
Como encontrá-lo, nessa rua vazia?

Em seu enterro não havia gestos:
Parada inerte a minha mão jazia.

Em seu enterro não havia vozes:
Sob censura estavam as salmodias.

Mas luz, e flor, e povo, e canto
responderão “presente”, chegada
a primavera mesmo que tardia!

(Ana Montenegro*, Berlim, Outono de 1969)



*Ana Montenegro, amante das letras, jornalista e advogada, foi uma histórica militante do PCB, ingressando em suas fileiras em 1944 e permanecendo nele até seu falecimento em 2006. Ana cumpriu importante papel no Movimento de Mulheres nacional e internacionalmente, chegando a ser parte da Comissão da América Latina pela Federação Democrática Internacional das Mulheres (FDIM). Também foi grande amiga de Carlos Marighela, sendo indicada por ele a se exiliar em 1964, logo após o golpe militar.

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