quarta-feira, 7 de setembro de 2011

REITORIA DA UFSM OCUPADA: eu acredito na rapaziada


João Marcos Adede y Castro

Este episódio da ocupação da Reitoria da UFSM tem despertado as mais distintas opiniões, inclusive de que a gurizada está passando dos limites.

Ora, alguém já imaginou algum tipo de manifestação que não cause transtorno a ninguém? Se não incomoda, não tem poder algum de obter algum resultado.

Sei que o bom senso devia me convencer que eu devia ficar fora desta, porque parece que não tenho nada a ver com o caso, mas como cidadão acho uma barbaridade que, em vista da greve de servidores, os estudantes se vejam há mais de dois meses sem RU e sem Biblioteca.


Convenhamos que esta gurizada é abusada. Quer ter o direito de comer e estudar. Pode uma coisa destas?

Faz dois meses ou mais que estudantes pobres, muitos morando naquele palacete chamado Casa do Estudante, eufemisticamente chamada de CÉU, e que tem enormes dificuldades para pagar um sanduíche sequer, não recebem alimentação no RU.

As aulas continuam e os trabalhos escolares também. No entanto, a Biblioteca está fechada!

Fala sério gurizada, quem não tem pão que coma brioches. Quem não tem almoço barato que venda os poucos livros velhos que tem, quem sabe as roupas, aquele único tênis rasgado que calça, quem sabe a dignidade?

Eu morei na Casa do Estudante 1 e comi no RU por quatro anos, o que muito me envaidece, pois foi a única maneira de obter meu diploma e hoje poder ter orgulho de dizer que estudei na UFSM e, pretensiosamente, poder dizer que venci na vida.

Muitas vezes comia na casa de algum colega e vendia (era ilegal, claro, mas agora já está prescrito o crime!) o ticket do jantar, e aí ia levando, até me formar.

Só tinha condições de fazer algum trabalho porque havia a biblioteca, porque comprava num semestre um livro indicado pelo professor e o vendia no semestre seguinte, para comprar o volume 2.
Esta gurizada de hoje faz festa, e isto é muito bom, pois luta tanto quanto eu para ser reconhecido, e não é justo que tenham de aceitar todo o desprezo do Estado-União quanto aos seus mais elementares direitos.

A questão não é saber quem é culpado pela greve dos servidores, mas é certo que a responsabilidade todos sabem de quem é: da União irresponsável. Tem dinheiro para tudo, menos para dar aos estudantes bóia e biblioteca.

Depois não sabem por que as bibliotecas estão vazias!

Sem violência às pessoas e sem destruição do patrimônio público (que disto já está se encarregando o Estado), toda manifestação por direitos é justa, válida e legítima.

Rapaziada, eu acredito em vocês.

* João Marcos Adede y Castro é Procurador do Ministério Público do Rio Grande do Sul.

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