domingo, 14 de novembro de 2010

Declaração pelos 65 anos da FMJD!


FMJD

Há 65 anos, em 10 de novembro de 1945, os jovens progressistas e antifascistas do mundo se reuniam em Londres na Conferência Mundial Juvenil, convocada por iniciativa do Conselho Mundial de Juventude, criado durante a guerra contra o fascismo, pelas juventudes dos países aliados. Foi a primeira vez na história do movimento juvenil internacional em que se reuniram representantes de mais de 30 milhões de jovens de diferentes tendências políticas e religiosas, procedentes de 63 nações, sendo assim fundada a Federação Mundial de Juventudes Democráticas (FMJD).

Hoje, a Federação Mundial continua, mais do que nunca, sendo a organização da juventude unida em sua determinação de trabalhar pela paz, pela liberdade, pela democracia, pela independencia e pela igualdade em qualquer lugar do mundo, considerando essa tarefa como uma contribuição ao trabalho das Nações Unidas como a via mais correta para facilitar a felicidade, o bem-estar das futuras gerações e a proteção dos direitos e intereses da juventude.

65 anos depois, o mundo continua com muitas desigualdades, marcado por uma ampla crise estrutural do sistema capitalista, pela distribuição desigual dos recursos, pelas constantes guerras de rapinagem pelo controle dos recursos naturais, pelo incremento da pobreza, pela incitação ao consumismo desenfreado, pela destruição de nosso habitat e pela satisfação das vontades dos ricos, o que continua afetando especialmente os jovens, as mulheres e as crianças. Isso chega a colocar em perigo a sobrevivência de nossa própria espécie, que corre risco de desaparecer.

A juventude progresista mundial se prepara para celebrar no próximo mês de dezembro o XVII Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, na África do Sul, dedicado a Nelson Mandela e Fidel Castro, exemplos de luta para os jovens. Está claro que a ordem econômica imperialista predominante tem que ser mudada, que a luta para derrotar o imperialismo é a única alternativa para nossa sobrevivência, que queremos viver em um mundo de paz, fraternidade, solidariedade e com grandes transformações sociais. Queremos o bem da nossa espécie humana, sem fome, pobreza e guerras, com pleno acesso à educação e à saúde, um meio-ambiente saudável e um mundo onde coexista a amizade e o entendimento mútuo.

A FMJD deseja reiterar sua total solidariedade a todas as causas de lutas, a todas as revoluções e a seus líderes históricos, que inspiram e nos mantêm combativos contra o imperialismo. Durante todo esse tempo, sem essa contribuição, não teria sido possível ter chegado até aquí. Reafirmamos que, nos novos cenários de luta, estaremos alinhados com os exemplos dados a cada dia e trabalharemos para que as novas gerações aprendam a partir da experiência de luta acumulada durante todo esse período.

A FMJD reitera seu compromisso de seguir trabalhando para fortalecer a cooperação entre todas as organizações juvenis internacionais, regionais e nacionais como uma tarefa fundamental pela unidade de ação e solidariedade internacional da juventude e das forças antimperialistas, progresistas e democráticas, defendendo a necessidade de ir além das diferenças e enfrentar os problemas comuns de forma conjunta.

A Federação Mundial da Juventude Democrática, envia sua mais sincera felicitação a todos que contribuíram pela manutenção das lutas históricas do movimento juvenil progressista internacional, ratificando que o futuro pertence inteiramente aos jovens que carregam o legado histórico que foi deixado pelas gerações que nos precederam, e convoca todas seus membros, amigos e toda a juventude progresista do mundo a celebrar, no dia 10 de novembro, os 65 anos da organização com uma grande jornada de luta para derrotar o imperialismo, por um mundo em paz, solidariedade e de transformações sociais.

Comitê Coordenador da FMJD

07 de novembro de 2010

Fonte: http://uniaodajuventudecomunista.blogspot.com/2010/11/declaracao-pelos-65-anos-da-fmjd.html

Camarada Edwin Pérez: Presente!


UNIÃO DA JUVENTUDE COMUNISTA BRASIL

A tentativa frustrada de golpe perpetrada no Equador contra o Governo Popular do Presidente Rafael Correa ao final do mês de setembro deste ano, tendo sido patrocinada pelos setores mais conservadores do país sustentados nas oligarquias e no imperialismo, segue produzindo suas conseqüências.

No dia 25 de outubro, os golpistas fizeram mais um ataque à democracia popular, a juventude rebelde, aos comunistas e as lutas do povo equatoriano e latino-americano. Neste dia tentaram matar o camarada Edwin Pérez, secretário-geral da Juventude Comunista Equatoriana (JCE). O atentado foi realizado por um mercenário, estudante de direito, chamado Neptalí Ramirez Loor, vinculado a movimentos da extrema-direita equatoriana.

O camarada Edwin, após ficar internado, em estado de coma, por cerca de duas semanas não resistiu aos ferimentos e veio a falecer. A União da Juventude Comunista expressa o seu mais profundo pesar e presta total solidariedade aos parentes, amigos e camaradas de Edwin neste momento de luto.

Denunciamos que o assassinato do camarada Edwin não é um fato isolado, mas sim um ataque contra o movimento de resistência aos golpistas e de defesa da democracia e do processo revolucionário em curso no Equador. A Juventude Comunista Equatoriana é uma das principais organizações juvenis do país, tem um papel fundamental nas lutas que se travam neste momento, não só no Equador, como na América Latina. Foi as ruas defender o Presidente Correa e lutar contra o golpe de estado, além de jogar um papel fundamental na articulação de solidariedade internacional, ao propor no inicio deste ano no Equador como país sede do XVII FMJE, que se realizará na África do Sul , no mês de dezembro.

A morte do camarada Edwin representa um ataque direto à luta revolucionária do povo equatoriano, assim como as lutas de todos os jovens por um mundo mais justo e de paz, um mundo socialista.

Exigimos punição e prisão imediata do assassino do camarada Edwin Pérez! Toda solidariedade a Juventude Comunista Equatoriana!

Camarada Edwin Pérez: Presente!

Coordenação Nacional União da Juventude Comunista 11 de novembro de 2010.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A Juventude Comunista Colombiana expressa solidariedade e apoio à senadora Piedad Córdoba

Contra a criminalização do direito de opinião e da busca pela paz:

Rechaçamos a destituição e a inelegibilidade da senadora Piedad Córdoba!

Não é surpresa o anúncio do senhor Procurador Geral, Alejandro Ordoñez, de sancionar à senadora Piedad Córdoba com o indeferimento de sua posse parlamentar e sua inelegibilidade por 18 anos à cargos públicos. Em meio à esquizofrenia coletiva alimentada pelos grandes meios de comunicação, das comemorações delirantes da guerra e da morte, se promove um duro golpe nos movimentos sociais pela paz e pelo acordo humanitário.

Queremos alertar a todas a forças nacionais e internacionais sobre esta nova onda de perseguições. O governo Santos revela seu espírito militarista e autoritário, fiel à cartilha de seu predecessor. Diante desta ofensiva, a postura das organizações sociais e populares é correta, respondendo com protestos e mobilizações.

A Juventude Comunista Colombiana expressa toda sua solidariedade e apoio à senadora Piedad Córdoba. Nossa organização continuará batalhando pelos direitos da juventude, pela soberania, pela justiça social e pela paz democrática.

COMITÊ EXECUTIVO CENTRAL

Bogotá, 28 de setembro de 2010

Fonte original: http://www.pacocol.org/index.php?option=com_content&task=view&id=6511

Tradução: Maria Fernanda M. Scelza

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Central contrata manifestantes para fazer ato anti Cuba

Por Valério Paiva

Fotos: André Michiles

Na véspera da audiência pública do chanceler Celso Amorim na Comissão de Relações Exteriores do Senado sobre a política externa brasileira, no último dia 06 de abril, o Consulado Cubano e os órgãos de imprensa receberam um release da União Geral dos Trabalhadores (UGT), anunciando que iriam organizar um ato de suposta “solidariedade ao povo cubano”, em frente ao Consulado de Cuba em São Paulo. A convocatória da manifestação organizada pela UGT, que foi repercutida favoravelmente no site da revista Veja, indicava que se tratava de um apoio direitista ao movimento das chamadas “Damas de Branco”, incentivado pela comunidade “gusana” em Miami.

Em menos de 24 horas, várias entidades se articularam junto ao Movimento Paulista de Solidariedade à Cuba e convocaram um ato de defesa do povo cubano contra a manifestação da UGT. Mesmo com a surpresa e a dificuldade de mobilização, em pouco tempo, na manhã de quarta-feira, 07, cerca de 150 ativistas de inúmeras organizações e movimentos sociais se colocaram na calçada em frente ao Consulado de Cuba em São Paulo, em Perdizes.

Em solidariedade à ilha socialista, estavam presentes representações de diversos partidos e organizações da esquerda, de apoiadores explícitos aos mais críticos ao regime do Partido Comunista Cubano, como o PSOL, PCB, PT, PCdoB, Liga Estratégia Revolucionária, PCR, Consulta Popular e PCML, alem da CUT, Intersindical, CTB, Uneafro, MST e vários ativistas dos direitos humanos, como o vereador Jamil Murad (PCdoB), o advogado Aton Fon Filho e representantes do mandato do deputado estadual Raul Marcelo (PSOL).

Ato factóide

A UGT chegou logo depois, com pouco mais de 300 pessoas ligadas aos sindicatos dos Comerciários e dos Padeiros de São Paulo. Com exceção dos líderes, ninguém ali sabia os motivos do ato. Manifestantes pagos, que estariam recebendo entre R$ 50,00 (as mulheres) e R$ 100,00 (os homens) não escondiam que estavam ali “trabalhando”. Alguns chegavam a falar frases como “não estou nem aí para Cuba e sim para o meu bolso”. As mulheres estavam vestidas com as camisetas brancas distribuídas pela UGT, e seguravam uma rosa vermelha representando as “Mulheres de Branco”. E os homens, conhecidos como “bate-paus”, vieram para fazer provocações, criar tumulto e agredir os defensores de Cuba, que estavam no outro lado da rua, na calçada do Consulado.



A Policia Militar interveio para garantir a integridade do corpo consular, usando muitas vezes a força para separar os bate-paus que tentavam atravessar a rua, invadir a calçada do Consulado e agredir os ativistas defensores de Cuba. Gás pimenta chegou a ser usado pela força policial, enquanto fechava o trânsito da residencial Cardoso de Almeida, provocando trânsito na região. O comerciante Ricardo Patah, presidente da UGT, e Canindé Pegado, secretário geral dessa central, e o presidente do Sindicato dos Padeiros Chiquinho Pereira, ordenavam que os “manifestantes de aluguel” provocassem e atacassem os ativistas pró-Cuba.

Enquanto ocorria o ato durante a manhã, a assessoria de imprensa da UGT se apressava a espalhar nota à imprensa dizendo que um ato pacífico ocorria sem nenhum tumulto no consulado cubano. Por volta do meio-dia, o ato terminou como se fosse o final de algum expediente, com a explícita distribuição do pagamento aos contratados na frente de todo mundo, com direito à exibição de notas por parte de alguns dos supostos "manifestantes”.

Com o fim da manifestação anti revolução cubana, o Cônsul de Cuba em São Paulo, Carlos Trejo, abriu as portas do consulado para os ativistas, que foram recepcionados pelos funcionários do corpo consular e saudados pelos representantes da República de Cuba.

Fonte: zurdo-zurdo.blogspot.com

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Solidariedade ou oportunidade de negócios


O terremoto que atingiu o Haiti no dia 12 de janeiro já deixou 50000 mortos e pelo menos 3 milhões de pessoas estão desabrigadas, segundo estimativas da Cruz Vermelha. Em Porto Princípe, capital do país, prédios estão em ruínas e as pessoas tem dormido nas ruas, estão sem água potável, comida, remédios e muitas pessoas ainda estão debaixo dos escombros. A população do país que já era conhecido como o país "mais pobre do ocidente" está agora em uma situação ainda mais precária, o que ainda pode piorar.
A estadunidense Fundação Heritage, um dos principais defensores da exploração de desastres para empurrar impopulares políticas pró-corporações e neoliberais, publicou uma nota contendo o que deve ser feito pelos Estados Unidos diante do terremoto no Haiti. Na nota eles afirmam: "A resposta do governo dos EUA deve ser ousada e decisiva. É preciso mobilizar recursos civis e militares para resgate e socorro, a curto prazo, e recuperação e reformas a longo prazo" - certamente reformas que preveem mais liberdade para grandes empresas privadas, privatização de empresas públicas e recursos naturais, e outras medidas que acentuam as políticas que há décadas tem deixado o país miserável. A nota chama atenção como o "frágil ambiente político da região" deve ser levado em conta na "ajuda humanitária". E, por fim, pede que os militares norte-americanos vigiem a costa, impedindo um provável grande movimento de haitianos tentando entrar ilegalmente nos EUA pelo mar "em embarcações frágeis e perigosas".
Mas, como se não bastasse, o próprio Cônsul geral do Haiti no Brasil, Gerge Samuel Antoine, também quer tirar proveito da tragédia. Em entrevista num programa de televisão na quarta-feira, afirmou que o terremoto pode ser bom, pois torna o trabalho dele conhecido. Gerge Samuel Antoine, revelando seu racismo, ainda responsabilizou a religião dos/as haitianos/as pelo desastre: "Acho que de, tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo... O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano lá tá f..."; o mesmo que fez um tele-evangelista dos EUA, quando disse que escravos haitianos fizeram um pacto com o diabo para se libertar dos franceses no século XVIII e por isso são atingidos por tragédias. É esse racismo o responsável pela tragédia haitiana.
Todos os países agora se apressam em dizer que oferecem ajuda humanitária, com comida, água, remédios ou equipes de resgates - todos elementos fundamentais e muito necessários num momento de extrema precariedade no Haiti. Entretanto, com a ocupação militar das tropas da ONU, lideradas pelo Brasil, a comunidade internacional tem governado efetivamente o Haiti desde o golpe em 2004. Os mesmos países que agora fazem alarde com o envio de ajuda de emergência ao Haiti votaram consistentemente, durante os últimos 5 anos, contra qualquer extensão da missão da ONU para além de seus objetivos estritamente militares. Propostas para realocar parte destes "investimentos" em programas para a redução da pobreza ou o desenvolvimento agrário foram bloqueadas.
De qualquer forma, nestes primeiros dias, a principal ajuda da ONU e da "comunidade internacional" está em remover os escombros do Hotel Montana, hotel de alta classe, onde poderiam estar hospedados personalidades da ONU, militares e empresários estrangeiros. A ONU gasta meio bilhão de dólares por ano para manter a ocupação militar (MINUSTAH) no Haiti. O Haiti é hoje um país onde cerca de 75% da população vive com menos de 2 dólares por dia e 56% - quatro milhões e meio de pessoas - com menos de 1 dólar por dia. Décadas de "ajuste" neoliberal e intervenção neoimperial tiraram do país e de seu povo a capacidade de gerir sua própria economia. Condições desfavoráveis de comércio e financiamento internacional garantem a permanência, em um futuro previsível, dessa indigência e impotência como fatos estruturais da vida haitiana. E agora, um terremoto pode ser mais um motivo para políticas que aprofundem essa situação no Haiti. A possibilidade de reconstrução do país não está nessa "modernização" e liberalização econômica, mas em políticas que favoreçam a auto-determinação e o fim da exploração e opressão do povo haitiano, para que inicie a reconstrução do país com a solidariedade internacional. E então os países ricos começarem a pagar pela destruição que causaram por tantas décadas.

Por DESASTRE NO HAITI 15/01/2010 às 11:36

sábado, 16 de janeiro de 2010

Um camponês contra Kátia Abreu

O pequeno agricultor Juarez Vieira Reis enfrenta na Justiça uma das líderes da bancada ruralista no Congresso, que tomou suas terras há sete anos


Eduardo Sales de Lima


O camponês Juarez Vieira Reis foi expulso em 2003 da terra onde vivia desde o seu nascimento, em Tocantins, graças a uma intervenção judicial a pedido da senadora Kátia Abreu (DEM/TO). É que ela recebeu as terras de Juarez de presente do ex-governador tocantinense Siqueira Campos. O Projeto Agrícola Campos Lindos, criado em 1999, expulsou dezenas de pequenos posseiros de suas terras para entregá-las a figurões políticos e endinheirados, entre eles, a presidente da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), entidade que aglutina grandes proprietários rurais.


Entre as terras “doadas” por Siqueira Campos a Kátia Abreu, estavam os 545 hectares onde Juarez vivia desde o seu nascimento: a fazenda Coqueiro. Em dezembro de 2002, a senadora entrou com uma ação de reintegração de posse da área que lhe havia sido presenteada. Ela passou por cima da ação de usucapião em andamento, que dava respaldo legal à permanência da família de Juarez no imóvel. A Justiça de Tocantins aprovou a reintegração de posse e expulsou o posseiro e seus parentes.


Invasora

O despejo de Juarez, sua esposa, dez filhos e 23 netos ocorreu em abril de 2003, sem nenhum aviso prévio. Ele não pôde recolher suas criações, tanto de galinhas como de porcos, nem colher os alimentos que produziam, como mandioca e arroz. Tudo teve que ser abandonado.

A família rumou para uma chácara do filho de Juarez, nos limites de Campos Lindos, onde vive até hoje. O genro de Juarez, Rui Denilton de Abreu, aponta para um fato pouco divulgado na imprensa. Ele afirma que alguns dias depois de a família ter se alojado na casa, ocorreu um incêndio suspeito no local. “Isso foi intencional. Na minha consciência, eu sinto que isso foi um atentado à família dele. E o próprio boletim de ocorrência diz isso, que o fogo foi de cima pra baixo e de fora pra dentro. Foi acidental?”, questiona.

Passados mais de sete anos, cerca de 20 pessoas da família repartem hoje apenas dois cômodos de uma casa de sapê. E as refeições seguem irregulares. Segundo Juarez, apesar disso, o período após o despejo foi o que mais o preocupou em termos de alimentação.“Eu passava a noite inteira sem dormir, preocupado, pensando: 'será que eu vou ser obrigado a pedir comida nas casas, eu que sempre vivi de barriga cheia? Hoje eu vou ver a minha família assim por causa de uma senadora?'”, refletia.

“São sete anos nesta situação, e eu já estou com 61. Tenho medo é de morrer e deixar esse problemão para a família. Se tivesse na frente dela, eu perguntava, em primeiro lugar, se ela tem filho, se ela gostaria de ver um filho dela sofrendo igual ela está fazendo a minha família sofrer. Se ela achava bom”, desabafa.


Resistência

Mas, mesmo não tenho Kátia na sua frente, Juarez a enfrenta. E, diferentemente dos posseiros expulsos para as reservas do Cerrado, o agricultor decidiu lutar por seus direitos, pelo imóvel no qual sempre viveu. Ele tem em mãos documentos da propriedade, dos quais um data de 1958. O processo está em andamento pela Comarca de Goiatins.

Há cinco meses, ele foi à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e conseguiu forçar o Tribunal de Justiça de Tocantins a julgar tanto a ação de usucapião de 2000 como o pedido de liminar impetrado há seis anos para garantir a volta da família.

Enquanto isso, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Luiz Couto (PT-PB), encaminhou um ofício ao Conselho Nacional de Justiça para denunciar a influência de Kátia Abreu na Justiça do Tocantins e apressar os processos de pequeno agricultor.

Em nota, Kátia afirmou que é proprietária de terras no município de Campos Lindos, devidamente escriturada. Afirma ter “a posse mansa e pacífica da mesma desde a sua aquisição” e que Juarez Reis é “invasor contumaz de terras alheias”.

Fonte: Brasil de Fato

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A Criação de um Mito


A nova face da alienação política do período petista.

Pela primeira vez na história do cinema, um presidente da república ainda em pleno mandato, tem dedicada sua biografia à sétima arte, com um grande apelo à trajetória de quem venceu a fome e as péssimas condições as quais os retirantes nordestinos são submetidos desde o êxodo do sertão até chegar às favelas na periferia de São Paulo. O filme sobre a trajetória de Lula é uma superprodução para os padrões brasileiros, financiado com recursos de diversas empresas privadas, entre elas empreiteiras que estão diretamente envolvidas nas obras do PAC, tais como a Odebrecht e Camargo Corrêa e empresas prestadoras de serviços ou parceiras na exploração do Pré-sal, como o grupo EMX, do empresário Eike Batista.

Mas o que nos chama a atenção no filme não é a grande quantidade de empresas privadas que financiaram a obra e nem tão pouco a qualidade cinematográfica e oinvestimento no elenco. O que nos chama a atenção são as mensagens que estão evidenciadas nessa obra e o quanto a era Lula dá indícios de que ainda irá perdurar por algum tempo no cenário político brasileiro.

Podemos avaliar o filme em pelo menos três aspectos, sendo que todos eles são partes de um todo que pode ser resumido na tentativa da reificação de um mito vivo no imaginário da população.

O 1º aspecto trata da superação e da conquista de outro patamar de vida, ao qual de certa forma, todos(as) os(as) trabalhadores( as) são envolvidos ao se verem retratar na pele de um menino pobre, de uma família numerosa e retirante, que sonha com uma perspectiva melhor ao virem para São Paulo e que são sujeitados a todo o tipo de prova: fome, miséria, enchentes destruindo tudo nas madrugadas, humilhações etc, etc.

Lula encarna a figura do herói épico que vence com afinco as determinações às quais a classe trabalhadora estaria subjugada. Uma vez operário, ainda jovem, se horroriza com o vandalismo das greves dirigidas pelos comunistas, como o seu irmão mais velho, conhecido na época como “Frei Chico” e não vê sentido em tratar os patrões e o Governo, leia-se o capital, como os inimigos de classe dos trabalhadores( as).

Lula quer namorar, curtir o futebol, tomar cerveja e viver a vida, mesmo que sob o obscurantismo da Ditadura Militar e as perseguições e arrochos sob os quais o operariado vivia no Brasil naquele momento. Representa o trabalhador comum, mas sensível aos dilemas de seu tempo. Por sua vez, escolhe outra forma de se posicionar frente a esse contexto; critica a luta armada, o radicalismo ideológico da esquerda marxista, presente nos diálogos com o irmão.

Após a perda trágica da 1ª esposa, morta em trabalho de parto junto com o filho, Lula se deprime e envolve-se então de corpo e alma com o sindicato dos metalúrgicos do ABC, à época dirigido por um sindicalista oportunista e que possuía relações espúrias com o Governo e o empresariado.

Eis o 2º aspecto da peça, o operário comum que desde cedo não se condicionou pelo enfrentamento ideológico, mas que buscou encontrar outras formas de convivência com o capital, aceita o estabelecimento do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e passa a propagandear as vantagens em se aceitar a transição, ao contrário dos comunistas que denunciavam o ataque ao direito da estabilidade por tempo de serviço. É o sindicalista que aos poucos vai retirando o sindicato do isolamento e vai condicionando aos trabalhadores do ABC uma voz ativa frente aos arrochos promovidos pela política econômica.

No filme, em seu discurso de posse em 1975, Lula reafirma que o papel fundamental do sindicato seria “buscar o entendimento” e de que “ não são os patrões os nossos inimigos”. Está plantada aí a semente ideológica de um modelo sindical que se alastrou e firmou raízes em diversos segmentos da classe trabalhadora em todo o Brasil e que alguns anos mais tarde estaria bem representada na organização político e sindical conhecida como Articulação, a principal corrente do Partido dos Trabalhadores e da Central Única dos Trabalhadores ( CUT).

Nesse momento o aspecto ideológico fica muito evidente. O novo sindicalismo forjado nas lutas do ABC no final dos anos 70 e início dos 80 é um sindicalismo que superou tanto o “velho” modelo comunista, baseado na luta de classes, como também o peleguismo, típico do período intervencionista na estrutura sindical, constituindo através das greves e da mobilização de base o despertar do sonho de uma classe por um futuro mais digno e a superação das amarras da Ditadura. É o herói coletivo, aquele que encarna todo o sentimento de esperança e rebeldia de um momento histórico, de transição, mas ao mesmo tempo de estabelecimento de um novo modelo de relação entre o capital e o trabalho no coração da indústria brasileira.

O 3º e último ato da peça encerra todo o sentido da obra. Lula supera as adversidades, “conquista” junto com seus companheiros de sindicato um novo patamar não apenas para os metalúrgicos do ABC mas também para o conjunto da população brasileira ao se tornar o 1º operário eleito presidente da república.

Um líder sindical que através da persistência e da fidelidade com suas origens, imbuído de suas convicções, entre elas a de que os “patrões não são os nossos inimigos” consegue chegar ao mais alto posto do poder político no Brasil.

Enfim o filme: “Lula, O Filho do Brasil” é um fantástico documentário de propaganda política e ideológica da perspectiva social democrata, não para a época retratada no filme; mas para a nossa atualidade. Muitos críticos vêem no filme mais um elemento de campanha eleitoral para a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, o que não deixa de ser verdade. Mas essa obra também serve como elemento de propagação de uma idéia, de uma mensagem aos trabalhadores em época de crise econômica mundial e acentuada contradições no mundo do trabalho, de que assim como nos anos 70, mesmo com greves e ocupações, o diálogo e a parceria devem estar sempre à frente da condução política das lideranças de classe, sejam eles patrões ou empregados.

O modelo instaurado no ABC e ampliado pela CUT durante os anos 90 com a defesa do chamado sindicalismo de resultados perpassa hoje por uma séria onda de críticas, pois o apogeu desse modelo de sindicalismo conciliatório e institucionalizado encontrou justamente no Governo do presidente “operário” seu clímax e ao mesmo tempo seu limite histórico, pois aumenta significativamente a onda de desfiliações das entidades de base ao não identificarem mais nesse modelo sindical uma real alternativa de luta frente aos efeitos da crise.

Mesmo assim a associação do homem retirante com o líder sindical e com o presidente eleito que após ser derrotado por três vezes, não desistiu, vencendo as eleições de 2002 é justamente a síntese desejada tanto pelos que defendem o atual governo em ano eleitoral, como os que defendem o legado histórico da CUT e seus sindicatos orgânicos, como os que defendem a manutenção desse modelo de governo socialiberal, calcado na mais profunda aliança de classe já operada entre a burguesia e a nova burocracia sindical e política.

Há ainda outro elemento que não pode ser desconsiderado e nada mais justo que parafrasear o próprio presidente Lula: “nunca antes na história desse país”, um presidente que não tem condições legais de ser candidato ao próximo pleito já antecipou sua campanha para 2014 com tanta pompa e inteligência. O filme sem sombra de dúvida estará presente no imaginário da população brasileira ao longo desses próximos anos tornando-se mais um acessório de propaganda ideológica, utilizada pelo PT em torno da figura de Lula sempre que se fizer necessário, pois como bem está sintetizado em seu título, LULA seria o filho natural de toda uma nação chamada Brasil.

Nem Getúlio Vargas inspirado em Joseph Goebbels, quando criou o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) inaugurando na história da república o uso do marketing político para a auto promoção, chegaria a tanto!

Por Fábio Bezerra.

(Professor de História e Filosofia e membro do CC do PCB)