quarta-feira, 13 de maio de 2009

O que todo revolucionário deve saber sobre a repressão

A Estudos Vermelhos acabou de traduzir (às pressas, claro), editar e colocar a venda (da forma mais econômica possível, o que não inclui NENHUMA preocupação estética), a obra de Victor Serge, “O que todo revolucionário deve saber sobre a repressão”.

Francês de origem russa, Serge foi para a URSS em 1920, entrou no Partido Comunista, e trabalhou nas investigações e estudos dos arquivos da Okrana, a política secreta do tzar. Em 1926, de volta à França, escreveu esse livro interessantíssimo.

O primeiro capítulo trata da Okrana por todos os aspectos em que Serge pode observar pelos documentos estudados. O segundo capítulo trata da clandestinidade, usando a mesma documentação. O terceiro são conselhos para militantes vivendo na clandestinidade.

O quarto capítulo já trata da repressão feita pelos socialistas no poder, de um ponto de vista otimista, que na verdade parece representar o que era na época que Serge militou exatamente nessa área (uma das funções da investigações era capturar antigos agentes e provocadores da
Okrana e julgá-los pelos crimes cometidos contra os revolucionários) uma visão corrente entre alguns de seus camaradas, apesar de Serge já ser em 1926 um crítico do regime.

Os três primeiros capítulos são bons, mas como documento histórico esse quarto capítulo é uma pérola! Explica muito da derrota que o proletariado russo veio a sofrer dez anos depois de publicado o livro, e novamente nos anos 50, prefigurando a derrota simbólica de 1990, que pelo menos permitiu a reorganização dos comunistas em partidos separados dos burgueses que já dominavam o PCUS. A função vital do Estado proletário, impedir a contra-revolução, fracassou, por diversos motivos, hoje fáceis de observar, e um deles foi que reprimiu de forma ineficaz.

Hoje, verificamos isso pela história, que nos mostra que a contra-revolução conseguiu se fortalecer e vencer mesmo que demorando sete décadas para isso. Mas na época de Serge, não havia um comunista que soubesse indicar um caminho mais eficiênte, nem que desconfiasse de que o utilizado não estava funcionando, pois a única experiência que eles tinham para estudar, da Comuna de Paris, durou somente dois meses.

O que Victor Serge confirma é que a repressão soviética formou-se na escola da repressão tzarista, como de fato verificamos em diversas revoluções. Uma e outra criaram mais inimigos do que conseguiram eliminar. O tzarismo dificilmente conseguiria, por qualquer método, sobreviver, pois era todo injusto, mas o regime soviético podia ter usado métodos econômicos de detectar os inimigos, pois não tinha inimigos importantes que não fossem gananciosos. Note-se que é absurdo pensar que um capitalista pode correr riscos sem lucrar com isso. De fato, a história nos mostra que a revolução foi derrubada por traficantes, corruptos e burgueses rurais que eram as duas coisas. Sem essa base social, o capital não teria recuperado o poder.

Ora, é muito mais fácil provar que um sujeito enriqueceu mais do que devia, e não errar na avaliação, do que saber se alguém pensa e conspira contra o regime. Mais fácil e mais útil. Pensar, qualquer imbecil pode pensar o que bem quiser, mas se cismar de pegar em armas, ou em fazer propaganda contra o poder proletário, precisará de dinheiro, e precisará de apoio entre gente da mesma laia, portanto de mais dinheiro. Ademais, a punição ideal para um corrupto ou traficante, gente que só pode gostar muito de dinheiro, é confiscar-lhes todos os bens, deixando-lhes talvez uma troca de roupas. Não pode existir maior desestímulo à corrupção. Mas é claro, só é possível saber disso hoje.

O livro do Victor Serge pode ser comprado na Estante Virtual: http://www.estantevirtual.com.br/

FONTE: http://estudosvermelhos.blogspot.com/2009/05/o-que-todo-revolucionario-deve-saber.html

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